quarta-feira, 22 de junho de 2016

Cinema e História: uma viagem aos anos sessenta embalada pelas canções dos quatro garotos de Liverpool


Muitas histórias e canções contando os conturbados anos sessenta.
Obviamente, não sou um especialista em cinema, tão pouco um cinéfilo, porém, foi justamente por não deter estas características (que citei) que me propus a realizar um estudo mais aprofundado sobre esta arte na cadeira de “Cinema e Cultura”. É extremamente estranho começar um comentário sobre um filme explicando-se um não indicado para fazê-lo, mas, na minha visão, era necessária tal ressalva para que o leitor deste pequeno texto se situe dentro de minhas observações e ponderações.

Para ser sincero, há alguns anos atrás, conseguia assistir uma gama bem maior de filmes do que assisto hoje em dia (devido ao tempo reduzido pelos trabalhos da faculdade, emprego, etc), mas, desde quando comecei a observá-lo, dois aspectos são de extrema importância e chamam-me a atenção diretamente no cinema: A imagem e a fala.
Em um primeiro momento podemos observar que a imagem é carregada de significados, seja ela em qualquer apresentação que se dê (fotografia, pinturas, imagens em movimento, etc.). Ela é produzida com algum intuito e abrange de uma maneira mais fácil, diversas faixas de idade ou escolaridade e com isso é extremamente carregada de informações sejam elas culturais, imaginárias, ou ainda coisas do cotidiano (por exemplo, imagens de desenho para crianças do primeiro ano escolar auxiliam no processo pedagógico de ensino ou ainda pessoas analfabetas podem fazer análises de imagens sem que saibam ler e escrever, decifrar placas nas vias, como ponto de ônibus ou táxi por meras associações).
A imagem também evoca a memória em várias frentes, seja ela através de um retorno ao passado vivenciado, a um passado recente, ou a uma situação que nem foi vivida.
Quando falo em imagem em cinema, ela não é necessariamente uma fotografia estática, mas sim, uma imagem em movimento. É justamente a sequencia de imagens estáticas que desenvolverão o filme.
O cinema desenvolveu-se e aprimorou-se ao longo do tempo, principalmente pela agregação de novos adventos.
A fala nos primórdios do cinema era através da imagem (cinema mudo) e desenvolvia no seu espectador tudo o que relatei nas linhas acima.
Em relação à fala (pronunciada, falada propriamente dita) aparece em um segundo momento na História do Cinema: através dela é fornecida ao espectador outra possibilidade: a utilização de outros sentidos para assistir um filme através da audição. O cinema com esse novo advento acaba por lançar o público em uma possibilidade mais real de acompanhar a história que está sendo contada. Hoje em dia na geração 3D é possível até utilizar outros sentidos (tato ou olfato para ambientalizar uma cena).
A fala é o casamento perfeito com a imagem para auxiliar a compreensão do espectador frente à narrativa do filme, ou seja, o som potencializa o público a interpretar a cena de uma maneira diferenciada, já que o próprio som (seja ele qual for) pode modificar a maneira de como se está percebendo e construindo a história da cena (ou do filme como um todo).
Era necessária também essa breve explicação, pois, o filme que abordarei nas próximas linhas é de um gênero que utiliza a imagem (como todos os filmes), contudo, sua ênfase é na fala. Trata-se então do gênero musical.

Este gênero fílmico tem origem no teatro — drama de palco — em que desde a Grécia Antiga, artistas faziam colaborações entre teatro e música. O caráter performático de ambas exigia tanto um nível de interpretação dramática por parte do músico/cantor, quanto melodia por parte do ator (FARIAS, 2007, p. 2).

O Boom dos musicais ocorre principalmente em meados do século XX e desde então o gênero musical é amplamente produzido e consumido dentro da indústria cinematográfica (principalmente com o advento das animações).
Meus comentários serão referentes ao filme “Across The Universe”. Creio que o filme detém momentos geniais e abordagens sutis sobre diferentes temas. Não é minha intenção convencer alguém a gostar do filme, tão pouco pleitear por bandeiras (de qualquer assunto) abordadas no mesmo. Proponho-me a apenas relatar o filme e enfatizar alguns aspectos (aliás, consegui perceber alguns aspectos somente após rever o filme para redigir o presente texto, sendo que, já o havia assistido ao menos em três oportunidades).
O filme em si foi uma surpresa para mim. Detive o primeiro contato através de um trailer em um cinema. Por acaso, um dia passei em uma locadora e lá estava o DVD do filme me aguardando.
Procurarei dar uma visão geral do filme (enredo, contexto histórico, trilha sonora, crítica), pois, é impossível desvinculá-los.
O filme detém três focos: o primeiro seria contar uma linda história de amor. O segundo relatar em linhas gerais os conturbados anos sessenta e seu contexto histórico. O terceiro seria o casamento dos dois aspectos anteriores, só que com um plus a mais: um musical com releituras das canções da maior banda de rock de todos os tempos (obviamente, sob a minha visão) os Beatles.
Citando os focos principais, já adentro na abordagem do enredo, trilha sonora e do contexto histórico do filme. A história de amor é atravessada diversas vezes pelo momento histórico em que se passa o filme e a música que é reproduzida auxilia o espectador a compreender o que se passa. O filme se passa na Inglaterra e nos Estados Unidos e conta a historia de Jude, um jovem estivador inglês, fruto de um romance da Segunda Guerra Mundial. Jude não conhece o pai e descobre que este trabalha na Universidade de Princeton e parte para os Estados Unidos com o intuito de conhecê-lo.
Após encontrar o pai, Jude conhece um estudante da universidade (Max) e se torna seu melhor amigo. Max vai buscar sua irmã (Lucy) na escola com Jude levando-os para casa para a comemoração do dia de ação de graças. Jude apaixona-se por Lucy e a partir daí desenrola-se toda a história.
De acordo com minhas pesquisas, a diretora do filme (Julie Taymor) vivenciou a época em que o filme se passa, sendo assim, obviamente, é perceptível que a diretora aborda questões que lhes são importantes e relata a história através de suas vivências e experiências. Por isso, citei que apenas relataria o filme independente dos aspectos que este aborda, pois, há uma inclinação política visível durante o musical.
Os pontos que me chamaram a atenção no musical são vários: desde o figurino até as canções propriamente ditas.
Para quem é fã dos Beatles já são notáveis as referências ao pegar o DVD na mão, afinal, o filme é intitulado “Across The Universe” uma canção da banda. Max, Lucy, Jude, Prudence e outros personagens são referências a outras canções do quarteto de Liverpool, aliás, algumas dessas canções (que são nomes dos personagens) não aparecem no musical.
A amizade instantânea de Max e Jude também pode ser um lembrete direto da amizade de Lennon e McCartney.
O filme também discute o padrão “comportado” e o “rebelde” oscilando uma canção com dois estilos musicais diferentes (do pop ao rock and roll).
De maneira extremamente sutil, a diretora incluiu no filme a questão homossexual, utilizando uma música ou frases aleatórias em determinadas canções. 
A referência ao feriado do “dia de ação de graças” que detém grande importância nos Estados Unidos também é frisado de maneira clara.
O debate entre qual carreira um jovem deve seguir ou não, também ganha espaço no filme.
Outro ponto enfatizado na obra são os movimentos e protestos dos anos sessenta. No filme é apresentada a luta dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos através de canções e aparições momentâneas de Martin Luther King. Foi na década de 1960 que os negros asseguraram o fim oficial da segregação racial no país através da aprovação de leis (com a Lei de Direito ao Voto, por exemplo).
Também é abordada a questão da Guerra do Vietnã. Protestos contra a guerra são praticamente corriqueiros no filme, aliás, fazem parte do contexto principal abordado. Através desses protestos é possível notar os movimentos (pacifistas e não pacifistas) frente às decisões do governo americano. Questionamentos sobre os jovens que vão para o front também são levantados no musical (seja ela por jovens que vão para guerra e morrem nos campos de batalha, ou por jovens que voltam feridos do combate ou com sequelas físicas e psicológicas).
O assunto “sexo e drogas” também se faz presente no filme. Não é de uma maneira explícita, contudo, por diversas vezes os personagens utilizam drogas ilícitas, por exemplo. O movimento Hippie e a psicodelia também são retratados na película (inclusive com a participação do cantor Bono Vox, da banda U2)

Jo-Jo, Sadie e Jude.

Outras referências aparecem no filme, mas, dificilmente o espectador perceberá de “primeira”. O personagem Jo-Jo e a personagem Sadie são referências diretas aos cantores Jimmy Hendrix e Janis Joplin. Há também referências a filmes clássicos como “Titanic”, possivelmente pela simpatia da diretora com esses cantores e filmes.
No tocante as releituras o filme (atrevo-me a dizer) é genial. A última aparição pública dos Beatles é referenciada através de duas canções no filme. Quem é fã da banda irá reconhecer este momento a primeira vista.
Aliás, creio que o ponto máximo deste filme fica a cargo das releituras musicais. A diretora poderia simplesmente reproduzir as canções dos Beatles utilizando os arranjos originais e só. A grande jogada do filme é justamente alterar os arranjos procurando dramatizar ou ambientalizar à discussão e o enredo da cena através da canção. Sem contar que as vozes dos artistas para cada canção foram escolhidas de maneira magistral.
Não é preciso ler o texto todo para chegar à conclusão de que sou fã dos Beatles e fã do filme referido. O que mais me chamou a atenção em produzir esse trabalho foi justamente, ver o filme de outra maneira: vi o filme no idioma original e procurei analisar de fato o que estava vendo. Fazendo esse exercício acabei percebendo que há inúmeras sutilezas no objeto fílmico que por vezes passa despercebido.

Ficha Técnica do Filme

Filme: Across The Universe
Gênero: Musical
Elenco: Jim Sturgess,  Evan Rachel Wood, Joe Anderson, Dana Fuchs, Martin Luther Maccoy, T.V. Carpio, Bono Vox
Direção:
Julie Taymor
Roteiro:
Julie Taymor, Dick Clement
Idioma:
Inglês
País:
Inglaterra/Estados Unidos
Fotografia: Bruno Delbonnel
Trilha Sonora: 
Elliot Goldenthal
Ano: 2007
Duração: 2h 14min

Referências:

FARIAS, Marina Fernanda Veiga dos Santos. A importância da trilha sonora como elemento comunicacional na composição de musicais: uma análise do filme “Moulin Rouge – Amor em vermelho”. Alagoas: XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste, 2011, p. 1 – 4
Disponível digitalmente em: < http://intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2011/resumos/R28-0113-1.pdf > Acessado em: 11 de Abril de 2015.

MOREIRA, Alice Grobberio. Resenha do filme “Across The Universe”. Fevereiro de 2015.
Disponível digitalmente em: < https://beatlescollege.wordpress.com/2015/02/13/across-the-universe-filme-completo-legendado/ > Acessado em: 11 de Abril de 2015.

FORLANI, Marcelo. Análise do Filme Across The Universe. Dezembro de 2007.
Disponível digitalmente em: < http://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/across-the-universe/ > Acessado em: 11 de Abril de 2015.

CAESAR, Demetrius. Crítica ao Filme Across The Universe. Novembro de 2007.
Disponível Digitalmente em: < http://www.cineplayers.com/critica/across-the-universe/1175 > Acessado em: 11 de Abril de 2015.

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-42806/

Fonte das Imagens:

http://25.media.tumblr.com/tumblr_m9xwzvfDFf1r2ckk7o1_500.gif

http://img09.deviantart.net/b7fa/i/2008/138/a/4/across_the_universe_wallpaper_by_tamachan87.jpg

http://images5.fanpop.com/image/photos/27600000/Across-the-Universe-musical-films-27638795-1280-720.jpg

https://ocinefilodigital.files.wordpress.com/2011/03/acrossuniversesoundtrack.jpg

http://images.allfreedownload.com/images/graphiclarge/movie_tape_icon_144163.jpg

http://2.bp.blogspot.com/_KPYCtUH42o/VQD5rbfia_I/AAAAAAAAWm8/zdTaORL8mOM/s1600/cinema.jpg

Por: Lúcio Nunes

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