Muitas histórias e canções contando os conturbados anos sessenta. |
Obviamente,
não sou um especialista em cinema, tão pouco um cinéfilo, porém, foi justamente
por não deter estas características (que citei) que me propus a realizar um
estudo mais aprofundado sobre esta arte na cadeira de “Cinema e
Cultura”. É extremamente estranho começar um comentário sobre um filme
explicando-se um não indicado para fazê-lo, mas, na minha visão, era necessária
tal ressalva para que o leitor deste pequeno texto se situe dentro de minhas
observações e ponderações.
Para
ser sincero, há alguns anos atrás, conseguia assistir uma gama bem maior de
filmes do que assisto hoje em dia (devido ao tempo reduzido pelos trabalhos da
faculdade, emprego, etc), mas, desde quando comecei a observá-lo, dois aspectos
são de extrema importância e chamam-me a atenção diretamente no cinema: A
imagem e a fala.
Em
um primeiro momento podemos observar que a imagem é carregada de significados,
seja ela em qualquer apresentação que se dê (fotografia, pinturas, imagens em
movimento, etc.). Ela é produzida com algum intuito e abrange de uma maneira
mais fácil, diversas faixas de idade ou escolaridade e com isso é extremamente
carregada de informações sejam elas culturais, imaginárias, ou ainda coisas do
cotidiano (por exemplo, imagens de desenho para crianças do primeiro ano
escolar auxiliam no processo pedagógico de ensino ou ainda pessoas analfabetas
podem fazer análises de imagens sem que saibam ler e escrever, decifrar placas
nas vias, como ponto de ônibus ou táxi por meras associações).
A
imagem também evoca a memória em várias frentes, seja ela através de um retorno
ao passado vivenciado, a um passado recente, ou a uma situação que nem foi
vivida.
Quando
falo em imagem em cinema, ela não é necessariamente uma fotografia estática,
mas sim, uma imagem em movimento. É justamente a sequencia de imagens estáticas
que desenvolverão o filme.
O
cinema desenvolveu-se e aprimorou-se ao longo do tempo, principalmente pela
agregação de novos adventos.
A
fala nos primórdios do cinema era através da imagem (cinema mudo) e desenvolvia
no seu espectador tudo o que relatei nas linhas acima.
Em
relação à fala (pronunciada, falada propriamente dita) aparece em um segundo
momento na História do Cinema: através dela é fornecida ao espectador outra
possibilidade: a utilização de outros sentidos para assistir um filme através
da audição. O cinema com esse novo advento acaba por lançar o público em uma
possibilidade mais real de acompanhar a história que está sendo contada. Hoje
em dia na geração 3D é possível até utilizar outros sentidos (tato ou olfato
para ambientalizar uma cena).
A
fala é o casamento perfeito com a imagem para auxiliar a compreensão do
espectador frente à narrativa do filme, ou seja, o som potencializa o público a
interpretar a cena de uma maneira diferenciada, já que o próprio som (seja ele
qual for) pode modificar a maneira de como se está percebendo e construindo a
história da cena (ou do filme como um todo).
Era
necessária também essa breve explicação, pois, o filme que abordarei nas
próximas linhas é de um gênero que utiliza a imagem (como todos os filmes),
contudo, sua ênfase é na fala. Trata-se então do gênero musical.
Este
gênero fílmico tem origem no teatro — drama de palco — em que desde a Grécia
Antiga, artistas faziam colaborações entre teatro e música. O caráter
performático de ambas exigia tanto um nível de interpretação dramática por
parte do músico/cantor, quanto melodia por parte do ator (FARIAS, 2007, p. 2).
O Boom dos musicais ocorre principalmente
em meados do século XX e desde então o gênero musical é amplamente produzido e
consumido dentro da indústria cinematográfica (principalmente com o advento das
animações).
Meus
comentários serão referentes ao filme “Across The Universe”. Creio que o filme
detém momentos geniais e abordagens sutis sobre diferentes temas. Não é minha
intenção convencer alguém a gostar do filme, tão pouco pleitear por bandeiras
(de qualquer assunto) abordadas no mesmo. Proponho-me a apenas relatar o filme
e enfatizar alguns aspectos (aliás, consegui perceber alguns aspectos somente
após rever o filme para redigir o presente texto, sendo que, já o havia
assistido ao menos em três oportunidades).
O
filme em si foi uma surpresa para mim. Detive o primeiro contato através de um
trailer em um cinema. Por acaso, um dia passei em uma locadora e lá estava o
DVD do filme me aguardando.
Procurarei
dar uma visão geral do filme (enredo, contexto histórico, trilha sonora,
crítica), pois, é impossível desvinculá-los.
O
filme detém três focos: o primeiro seria contar uma linda história de amor. O
segundo relatar em linhas gerais os conturbados anos sessenta e seu contexto
histórico. O terceiro seria o casamento dos dois aspectos anteriores, só que
com um plus a mais: um musical com
releituras das canções da maior banda de rock de todos os tempos (obviamente,
sob a minha visão) os Beatles.
Citando
os focos principais, já adentro na abordagem do enredo, trilha sonora e do contexto
histórico do filme. A história de amor é atravessada diversas vezes pelo
momento histórico em que se passa o filme e a música que é reproduzida auxilia
o espectador a compreender o que se passa. O filme se passa na Inglaterra e nos
Estados Unidos e conta a historia de Jude, um jovem estivador inglês, fruto de
um romance da Segunda Guerra Mundial. Jude não conhece o pai e descobre que este
trabalha na Universidade de Princeton e parte para os Estados Unidos com o
intuito de conhecê-lo.
Após
encontrar o pai, Jude conhece um estudante da universidade (Max) e se torna seu
melhor amigo. Max vai buscar sua irmã (Lucy) na escola com Jude levando-os para
casa para a comemoração do dia de ação de graças. Jude apaixona-se por Lucy e a
partir daí desenrola-se toda a história.
De
acordo com minhas pesquisas, a diretora do filme (Julie Taymor) vivenciou a
época em que o filme se passa, sendo assim, obviamente, é perceptível que a
diretora aborda questões que lhes são importantes e relata a história através
de suas vivências e experiências. Por isso, citei que apenas relataria o filme
independente dos aspectos que este aborda, pois, há uma inclinação política
visível durante o musical.
Os
pontos que me chamaram a atenção no musical são vários: desde o figurino até as
canções propriamente ditas.
Para
quem é fã dos Beatles já são notáveis as referências ao pegar o DVD na mão,
afinal, o filme é intitulado “Across The
Universe” uma canção da banda. Max, Lucy, Jude, Prudence e outros
personagens são referências a outras canções do quarteto de Liverpool, aliás,
algumas dessas canções (que são nomes dos personagens) não aparecem no musical.
A
amizade instantânea de Max e Jude também pode ser um lembrete direto da amizade
de Lennon e McCartney.
O filme
também discute o padrão “comportado” e o “rebelde” oscilando uma canção com
dois estilos musicais diferentes (do pop ao rock
and roll).
De
maneira extremamente sutil, a diretora incluiu no filme a questão homossexual,
utilizando uma música ou frases aleatórias em determinadas canções.
A
referência ao feriado do “dia de ação de graças” que detém grande importância
nos Estados Unidos também é frisado de maneira clara.
O
debate entre qual carreira um jovem deve seguir ou não, também ganha espaço no
filme.
Outro
ponto enfatizado na obra são os movimentos e protestos dos anos sessenta. No
filme é apresentada a luta dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos
através de canções e aparições momentâneas de Martin Luther King. Foi na década
de 1960 que os negros asseguraram o fim oficial da segregação racial no país
através da aprovação de leis (com a Lei de Direito ao Voto, por exemplo).
Também
é abordada a questão da Guerra do Vietnã. Protestos contra a guerra são
praticamente corriqueiros no filme, aliás, fazem parte do contexto principal
abordado. Através desses protestos é possível notar os movimentos (pacifistas e
não pacifistas) frente às decisões do governo americano. Questionamentos sobre
os jovens que vão para o front também
são levantados no musical (seja ela por jovens que vão para guerra e morrem nos
campos de batalha, ou por jovens que voltam feridos do combate ou com sequelas
físicas e psicológicas).
O
assunto “sexo e drogas” também se faz presente no filme. Não é de uma maneira
explícita, contudo, por diversas vezes os personagens utilizam drogas ilícitas,
por exemplo. O movimento Hippie e a psicodelia também são retratados na
película (inclusive com a participação do cantor Bono Vox, da banda U2)
Jo-Jo, Sadie e Jude. |
Outras
referências aparecem no
filme, mas, dificilmente o espectador perceberá de “primeira”. O personagem
Jo-Jo e a personagem Sadie são referências diretas aos cantores Jimmy Hendrix e
Janis Joplin. Há também referências a filmes clássicos como “Titanic”,
possivelmente pela simpatia da diretora com esses cantores e filmes.
No
tocante as releituras o filme (atrevo-me a dizer) é genial. A última aparição
pública dos Beatles é referenciada através de duas canções no filme. Quem é fã
da banda irá reconhecer este momento a primeira vista.
Aliás,
creio que o ponto máximo deste filme fica a cargo das releituras musicais. A
diretora poderia simplesmente reproduzir as canções dos Beatles utilizando os
arranjos originais e só. A grande jogada do filme é justamente alterar os
arranjos procurando dramatizar ou ambientalizar à discussão e o enredo da cena
através da canção. Sem contar que as vozes dos artistas para cada canção foram
escolhidas de maneira magistral.
Não
é preciso ler o texto todo para chegar à conclusão de que sou fã dos Beatles e
fã do filme referido. O que mais me chamou a atenção em produzir esse trabalho
foi justamente, ver o filme de outra maneira: vi o filme no idioma original e procurei analisar de fato o
que estava vendo. Fazendo esse exercício acabei percebendo que há inúmeras
sutilezas no objeto fílmico que por vezes passa despercebido.
Ficha Técnica do Filme
Filme: Across The Universe
Gênero:
Musical
Elenco:
Jim
Sturgess, Evan Rachel Wood, Joe
Anderson, Dana Fuchs, Martin Luther Maccoy, T.V. Carpio, Bono Vox
Direção: Julie Taymor
Roteiro: Julie Taymor, Dick Clement
Idioma: Inglês
País: Inglaterra/Estados Unidos
Direção: Julie Taymor
Roteiro: Julie Taymor, Dick Clement
Idioma: Inglês
País: Inglaterra/Estados Unidos
Fotografia: Bruno
Delbonnel
Trilha Sonora: Elliot Goldenthal
Trilha Sonora: Elliot Goldenthal
Ano: 2007
Duração: 2h 14min
Referências:
FARIAS,
Marina Fernanda Veiga dos Santos. A
importância da trilha sonora como elemento comunicacional na composição de
musicais: uma análise do filme “Moulin Rouge – Amor em vermelho”. Alagoas:
XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste, 2011, p. 1 – 4
Disponível
digitalmente em: < http://intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2011/resumos/R28-0113-1.pdf
> Acessado em: 11 de Abril de 2015.
MOREIRA,
Alice Grobberio. Resenha do filme
“Across The Universe”. Fevereiro de 2015.
Disponível
digitalmente em: < https://beatlescollege.wordpress.com/2015/02/13/across-the-universe-filme-completo-legendado/
> Acessado em: 11 de Abril de 2015.
FORLANI,
Marcelo. Análise do Filme Across The
Universe. Dezembro de 2007.
Disponível
digitalmente em: < http://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/across-the-universe/
> Acessado em: 11 de Abril de 2015.
CAESAR,
Demetrius. Crítica ao Filme Across The Universe. Novembro de 2007.
Disponível
Digitalmente em: < http://www.cineplayers.com/critica/across-the-universe/1175
> Acessado em: 11 de Abril de 2015.
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-42806/
Fonte das Imagens:
http://25.media.tumblr.com/tumblr_m9xwzvfDFf1r2ckk7o1_500.gif
http://img09.deviantart.net/b7fa/i/2008/138/a/4/across_the_universe_wallpaper_by_tamachan87.jpg
http://images5.fanpop.com/image/photos/27600000/Across-the-Universe-musical-films-27638795-1280-720.jpg
https://ocinefilodigital.files.wordpress.com/2011/03/acrossuniversesoundtrack.jpg
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http://2.bp.blogspot.com/_KPYCtUH42o/VQD5rbfia_I/AAAAAAAAWm8/zdTaORL8mOM/s1600/cinema.jpg
Por: Lúcio Nunes